terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Capitulo 13 – A Campanha de 0,01 centavo



Com a morte do Agno, fiz minha primeira campanha do GBT sem um faixa A já experiente e como já escrevi, quem se destacou foi a A. Guerreiro, mas a equipe estava reduzida pois havia saído o Sergio, que não suportou a ideia de voar e para substituir, a empresa completou minha equipe com dois vendedores, que vieram posteriormente me dar muita dor de cabeça. Um novato, chamado Atanosov e uma veterana que fora recontratada e entrou na minha equipe com status de faixa A, Eliane. Era uma vendedora simpática, parecia ser muito experiente e cheguei a acreditar que seria uma solução para melhorar o desempenho da equipe e ela trabalhou no final da campanha do GBT, sem grandes resultados.

O próximo trabalho era fazer novamente a Lista da Ceterp, agora eu na condição de supervisor. Além da minha equipe, também estava a equipe do Meneghetti, Silvio, Alexandre e a supervisão geral era do Manoel, que estava em casa, pois morava em Ribeirão Preto. Quando chegamos a cidade, ficamos hospedados no Hotel Bradesco, hoje já não existe mais e o prédio é ocupado por outro tipo de atividade. Ele ficava localizado bem próximo do escritório da LTN, a 50 metros do Calçadão e 100 metros do famoso Bar Pinguim. O salão de atendimento era grande, acarpetado, um bom lugar para trabalhar. Nossas mesas ficavam espalhadas pelo salão e na frente delas a mesa do Manoel.

Hotel Bradesco - Para matar a saudade.
A minha, ficava no fundo da sala, uns 20 metros afastada da do Manoel e agradecia por isso, pois ainda não me sentia seguro com ele, embora o Manoel já tivesse dado prova de ter muita confiança na minha pessoa quando me indicou para o cargo de supervisor, mas sempre prevalecia a máxima: “chefe é chefe, manda quem pode e obedece quem tem juízo”.

A rotina diária era a mesma de outros lugares. Atendimento dos vendedores, checagem de contratos e assim os dias iam passando. Diversas vezes, a noite, inclusive noites de sábado, eu e Meneghetti ficávamos jogando xadrez no apartamento. Nunca chegamos a conclusão que era o melhor. Ganhei, perdi, mas guardo este momento com muito carinho.

Voltando a campanha, a Lista da Ceterp daquele ano tinha uma novidade: todos os telefones que quisessem ser inseridos de outra forma, além da contratada junto a Ceterp, teriam que fazer um contrato, inclusive residencial, para que a próxima edição saísse com as alterações que os clientes queriam. Cada contrato tinha o valor único de 0,01 centavo.

Chovia contrato no atendimento a noite. Em média 100 contratos diários por equipe. Tinha vendedor que sentava numa praça e ficava atendendo os interessados ali mesmo o dia todo. Era um festival de contratos sem valor e no meio deles, os contratos de renda e novos, que geravam divisas para a empresa. Foi uma campanha longa, e era impossível entrar improdutivo. O vendedor podia não realizar nenhuma venda, mas não trazer contrato de R$ 0,01 era impossível, a não ser que não estivesse trabalhando.

Bem, nesta fase, foi que entrou em cena o Atanosov e a Eliane. Um dia entraram improdutivos, contaram uma história qualquer e nos dias seguintes faziam o suficiente para provar que estavam trabalhando, mas sem nenhuma produtividade efetiva. Chegavam no atendimento a tarde com 01 contrato de R$ 0,01. Como a situação se repetia, tive que sair do meu canto e enfrentar meu querido supervisor chefe.
Na epoca usava bigode, que escondia esta cara alegre e de bom moço

- Manoel, a situação da Eliane e do Atanosov é essa, não estão produzindo e fiquei sabendo que estão saindo e ficando o dia todo juntos, indo a motel e está prejudicando a equipe. Quero que você me autorize a demitir os dois.
- Tudo bem, respondeu, mas aproveite também e traga sua carta de demissão, pois já que você está acabando com sua equipe, não vai ter ninguém para cuidar.
- Mas eu não quero sair, disse a ele.
- Então aprenda a dirigir seus vendedores, respondeu.
Voltei para minha mesa quase chorando, mas entendi a mensagem e a noite, depois do atendimento, chamei os dois vendedores para conversar e tivemos uma reunião bem amarga, mas que trouxe resultados. Depois daquele dia, eles continuaram a se encontrar, mas a produção dos dois foi normal até o final da campanha.

Mas estes contratos de R$ 0,01 davam muito trabalho para a supervisão, pois tínhamos que fazer com eles o mesmo procedimento que fazíamos com os contratos de novos e rendas, ou seja, conferir o preenchimento, fazer a checagem do que o vendedor havia feito, etc., mas era muito trabalho e passávamos o dia inteiro grudados no telefone.
- Bom dia! Quem fala é o sr. José das Dores?
- Ele não está, respondia. Só a noite. Quem é?
- É da Lista da Ceterp e ele autorizou uma inserção com o nome de José Funileiro e precisamos confirmar, esclarecia
- Isto é com ele, mas o telefone não dele e eu não quero nada. Muitas vezes esta era a resposta que ouvíamos e tínhamos que cancelar o contrato.

Isto se repetia o dia todo, por semanas a fio. Lembro uma ocasião que a Ângela trouxe somente num dia mais de 60 contratos. Jogou aquela pilha na mesa e atendendo o resto da equipe, naquele dia especifico entrou mais de 150 contratos. Eu, até por falta de experiência, ficava trabalhando na conferência dos contratos e das planilhas de atribuição até por volta de 22 horas, enquanto meus amigos supervisores, já por volta de 19 horas tinham encerrado suas tarefas.

Aprendi muito nesta época, apesar das gozações e das broncas, sai de Ribeirão Preto fortalecido. Estava pronto para enfrentar maiores desafios. Uma nova equipe seria formada e com esta equipe tive grandes alegrias.
Confesso que não recordo de todos, mas lembro que nesta equipe tinha o R. Souza, a Pinnati, Aílton, Valtinho, Saime, Kalil, Moya, Bertazoni e Granconato. Me perdoem se esqueci alguém ou troquei a época da equipe. Sei que todos trabalharam comigo, mas esta foi a segunda e também tive outras.

O carro do Valtinho era um Maverick neste estilo
O GBT era o desafio e o Valtinho vinha como o vendedor mais experiente da equipe, o famoso "Kid Vigarista", com seu famoso Maverick. Esta figurinha, um homem pequeno no tamanho, mas grande na astúcia e muito articulado.
Ele se divertia e divertia todo mundo. Era considerando faixa A, portanto cabeça de equipe e na formação ele foi escalado para trabalhar comigo numa campanha do GBT e íamos trabalhar no nordeste e norte do Brasil, mas quem disse que este homem entrava em avião. Nem amarrado! Estava criado um problema, pois a campanha ia começar, ele era o faixa A da equipe e tinha medo de viajar de avião.

Conversa aqui, conversa ali e nada – de avião eu não vou – dizia ele. Era um problema, pois estávamos sem tempo, não dava para trocar e aí conversando com o Manoel e com o Sidney, fizemos um plano que o Valtinho poderia viajar de carro e ele faria todas as cidades do interior de Minas, Bahia, e mais alguns lugares. Saiu de viagem com um pacote enorme de fichas e viajou sozinho por mais de 02 meses. A produção não foi das melhores, mas as histórias que ele contava sobre a viagem deixou muita gente morrendo de rir.

Era um bom sujeito. Nunca mais o vi depois que sai da LTN e um dia me disseram que ele havia morrido, mas nunca pude comprovar. Espero que esta notícia não seja verdade. Para concluir, o Valtinho, tinha uma brincadeira que fazia sempre, era quando recebia o pagamento, ele amarrava uma linha num pacote de dinheiro e saia correndo pelo salão de atendimento e gritava: - eu corri atrás de você. Agora você corre atrás de mim e todos riam.
Aparecido Ribeiro

Tem várias histórias sobre ele, como uma contada pelo Ribeiro, que certa ocasião, trabalhando na cidade de Assis, foi atribuído com uma ficha de uma concessionária Mercedes Benz e lá chegando foi atendido pelo contador da empresa e dentro da técnica mais refinada de um bom listeiro, se apresentou, disse o que estava fazendo e depois ficou mudo e saiu calado com o contrato assinado. Quis o destino que esta mesma empresa fosse atribuída a ele no ano seguinte e lá foi o Ribeiro encontrar com o mesmo contador e a mesma técnica e novamente o contrato foi renovado.

No ano seguinte, esta ficha já estava na condição de Especial e foi designada ao Valtinho resolver. Como era praxe entre os vendedores, o Valtinho conversou com o Ribeiro sobre como agir no cliente e lá foi o nosso herói em busca da consagração, pois resolvendo aquela ficha ele ganharia um bom dinheiro e seu percentual financeiro ficaria nas alturas. Mas ninguém dorme eternamente, um dia acorda e neste dia o contador já estava acordado e recebeu o Valtinho com duas pedras na mão (forma de expressão) e disse alhos e bugalhos e não teve jeito. O Valtinho teve que fazer o cancelamento da ficha e advinha quem pagou o pato: o Ribeiro, que foi vítima da ira do Valtinho, mas tudo isso era rotina.
Grande Kaká - Este merece um capitulo exclusivo

Mas este personagem era tão polêmico nos seus 1,55m creio, que estava sempre aprontando das suas e nosso amigo Kaká, conta que certa ocasião, na cidade de Barretos ele estava na porta do Hotel Shelton, que fica em frete a praça central da cidade, quando de repente ele vê um cara correndo como um doido, com uma pasta na mão, vindo em direção ao hotel e entrou por afora e dispensou o uso do elevador e subiu correndo as escadas. Era o Valtinho o atleta. Ele estava fugindo de um senhor com um pedaço de pau na mão, que  adentrou no hotel e queria pegar o rapaz da LTN. O pessoal da recepção, assustados com a gritaria e tentando acalmar o senhor, pediu com urgência a presença de um supervisor para resolver aquele impasse, o que depois de muito bate-boca, a situação ficou controlada, mas no dia seguinte, no jornal da cidade saiu uma notícia na primeira página que uma quadrilha estava agindo na cidade lesando os comerciantes com vendas de anúncios na lista telefônica. Foi a maior confusão. Foi necessário interromper a campanha até a chegada do diretor da empresa, o Sr. Josias, que teve grandes dificuldades em colocar as coisas no lugar. O causador de tudo isto tinha sido o Valtinho e o senhor que o queria agredir era o dono de um cartório da cidade. O motivo era simples: o Valtinho tentou dar uma “tranca” e o homem percebeu a falcatrua.

Voltando a campanha, resolvido o impasse do Valtinho, saímos para viagem e nossa primeira parada foi Ilhéus. Ficamos hospedados no centro da cidade ao lado do famoso Bar Vesúvio, onde Jorge Amado imortalizou pelo romance entre Nacib e Gabriela. Ilhéus Praia Hotel era o nosso quartel general e a região que iriamos atender era muito grande, pois além de Ilhéus, que é uma cidade relativamente pequena, tinha Itabuna, Vitoria da Conquista, Jequié e outras dezenas de cidades menores, que exigiram a locação de vários veículos e foram percorridos alguns milhares de quilômetros. Eram grandes distancias a serem cobertas e os vendedores tinham que sair bem cedo e chegarem sempre bem fora do atendimento normal.
O trabalho foi se desenvolvendo e a equipe vinha mantendo os percentuais normais e quando concluímos o serviço, nosso destino era Salvador. O voo de apenas 01 horas, estava marcado para sair num sábado por volta de 15 horas. O procedimento padrão é pegar e devolver o carro no aeroporto e foi o que fizemos. Fechamos a conta do hotel e cada vendedor colocou suas bagagens em seus respectivos carros e fomos em comboio para o aeroporto. 

Lembranças para quem não teve oportunidade de conhecer.
Eu, na condição de supervisor, não tinha direito a locar um automóvel e peguei uma carona no carro da Pinnati, que era um Voyage. Ela tinha trabalhado com este carro a semana toda, viajado no mínimo uns 3000 quilômetros. Saímos do hotel, paramos num posto de gasolina para abastecer, pois tinha que devolver o veículo com o tanque cheio. Quando chegamos no estacionamento da locadora, a Pinnati, fez a manobra de estacionar o carro corretamente e bateu com os pneus na guia, para que o carro ficasse bem estacionado. Neste momento, aconteceu o imponderável. O volante do carro caiu literalmente no seu colo. Foi o maior susto. Pensar que havia trabalhado a semana toda com o carro e do nada o volante sai, era imperdoável. Lembro da cena como fosse hoje, a Pinnati desceu do carro com o volante na mão e falou alhos e bugalhos para o pessoal da locadora. Desta vez a sorte esteve do lado dela, pois considerando o que ela havia trabalhado toda a semana e pelas estradas que andou, com várias serras, se o defeito tivesse acontecido antes, certamente ela teria sofrido um grave acidente.


Nosso destino agora era a cidade de Salvador e lá muitas coisas aconteceram, mas é para o próximo capitulo.

sábado, 18 de fevereiro de 2017

Capitulo 12 – 

Momentos inesquecíveis

Neste capitulo pretendo relembrar alguns fatos que ocorreram comigo quando já havia sido promovido a supervisor e algumas historias que me autorizaram publicar, vindo de amigos do grupo. Espero que outros também autorizem a usar suas historias que já foram publicadas na pagina.

Minha casa era assim quando morava em obras
Matuto do interior, criado na construção civil, trabalhando em almoxarifado, dormindo em alojamento de obras e vivendo o dia a dia com os pedreiros, carpinteiros, armadores, pintores, serventes e todos os profissionais desta área, onde a linguagem é bem simplificada, sem frescura, onde colher é “cuié” e garfo é “gafo” e outros vícios de linguagem que cada um trazia de sua região. Uma obra grande como a que eu trabalhava, onde tinha mais de 400 profissionais, era difícil administrar o dia a dia. Eu era responsável pelo almoxarifado e tinha que prestar contas ao mestre de obras e ao engenheiro, a saída dos materiais e ferramentas e isto demandava as vezes ter que agir com rispidez com os funcionários da obra, pois nem sempre eles estavam dispostos a colaborar. Era normal um eletricista vir ao almoxarifado, requisitar uma furadeira e “esquecer” de devolver. Se desse moleza, ela nunca mais voltaria ao estoque.

Usina de concreto
Foi com este espirito que fui trabalhar numa empresa de concreto usinado, montei uma loja de material de construção para finalmente chegar na LTN. Eu já tinha uma boa experiência de vendas e  uma boa redação, pois havia sido redator de um jornal da cidade de São Carlos por 02 anos, embora não tivesse feito nenhum curso neste sentido. Escrever para mim sempre foi uma coisa espontânea e por ter me casado muito cedo, com apenas 19 anos e logo em seguida nascer meu primeiro filho, tive que abdicar dos estudos e partir para o trabalho. Posteriormente, mas muito tempo depois, fiz um curso de marketing, pela Internet na Newton Paiva, de Belo Horizonte.

Supervisor Meneghetti - Grande amigo. Me ajudou muito,
Mas confesso, que mesmo sendo promovido a supervisor, ainda era muito ingênuo e isto era um prato cheio para meus colegas supervisores me perturbarem. Eu dizia naturalmente a palavra “parteleira” e o Meneghetti não deixava barato. Não é parteleira, dizia, é prateleira. Veja se aprende. Passava alguns dias e lá estava eu errando outra palavra e lá vinha gozação em cima, mas foi muito bom, pois graças a eles, principalmente ao Meneghetti, Silvio, Alexandre e ao Manoel, aprendi muito sobre comportamento social, etiqueta, modo de vestir, corte de cabelos, roupas e apreciar uma boa comida.
Casa na Serra da Cantareira
Mas dei muita mancada. Está aqui foi de lascar: O Supervisor Cavalcante havia adquirido uma casa no Bairro Cantareira, um dos lugares mais bonitos de São Paulo. Certo dia, ele convidou toda a supervisão para ir conhecer sua casa e passar o dia por lá, onde seria servido uma feijoada, feita pelo seu amigo Saul e pela sua funcionária Maria. Convite feito, convite aceito. Lembro que o Meneghetti ter tido que seria um ambiente descontraído e que não precisava ir de camisa social e gravata, poderia ir bem à vontade. Bem à vontade, imaginei que poderia colocar qualquer roupa e estaria tudo bem. Foi o que fiz. Coloquei uma calça jeans toda desbotada, bem surrada mesmo e uma camisa bem colorida e tênis e sai do Hotel San Marino e fui encontrar com os outros supervisores na frente da LTN, onde iriamos todos em dois ou três carros.
Quando cheguei defronte a LTN para me encontrar com os outros supervisores, tive vontade de voltar e ficar escondido pelo resto da semana. Ficar à vontade para eles, era estar vestido com elegância, sapatos mocassim, camisas polos, todos, sem exceção, estavam elegantemente trajados, menos eu. Me senti o bobo da corte. Levei até uma bronca do Sidnei sobre a maneira como eu estava vestido, mas já que estava ali, fui conhecer a casa do Cavalcante. Ele havia adquirido um sobrado, com um grande espaço de jardim,  piscina e dentro do imóvel, diversas cômodos, todos grandes. Era uma excelente casa. Fomos apresentados ao Saul e a Maria e ambos, além de excelentes cozinheiros, eram duas pessoas maravilhosas e naquele dia haviam preparado uma feijoada maravilhosa. Apesar de  me sentir deslocado, por ser novo no grupo e por estar vestido de uma forma inadequada, passamos uma tarde agradável naquele belo lugar, que tempos depois seria palco de uma tragédia sem precedentes.

Uma tragédia
Como o Cavalcante estava sempre em viagem, quem ficava  da casa na sua ausência era o Saul e a Maria, que moravam naquela residência desde que a mesma fora comprada. Um certo dia, o Cavalcante recebe um telefonema da Policia, dizendo que sua casa havia sido assaltada e que o Saul e a Maria haviam sido assassinados. Foi um pânico geral. O Saul fora morto com uma toalha sobre a cabeça e uma faca atravessada no pescoço e a Maria fora morta a facada no chão da cozinha da casa.

Eu e mais um grupo de vendedores fomos a casa do Cavalcante dar uma força para ele e tão logo a perícia liberou o local, lembro de ter lavado a cozinha que estava com sangue por todo lado e a noite, o grupo resolveu permanecer na casa. Era um grupo de valentes. As horas iam passando e ninguém conseguia sair da sala, onde todos, uns 10 no total, não tinham coragem de ir para os quartos dormir e ficamos reunidos na sala da casa a noite todo. Se alguém saia de perto do grupo para ir ao banheiro, por exemplo, voltava rapidinho. A casa tinha uma varanda linda, com espaço para todos sentarem, rede para descansar, mas ninguém se atrevia a sair de perto do grupo. O clima de terror estava no ar.  O tempo também contribuía para aumentar a tensão. Era uma noite fria e baixou uma cerração e pela janela dava para ver apenas as luzes amarelas dos postes, que destacava da neblina o que aumentava o cenário de medo.
Era um noite como essa.
Qualquer barulho, todos corriam para as janelas, morrendo de medo que os assassinos voltassem. Aquele clima de insegurança permaneceu pela madrugada, quando já por volta de 05 horas, o telefone tocou. Ainda assustados, alguém atendeu, dizendo aquele “Alo” com uma alta dose de medo na voz e do outro lado era a Policia informando que haviam sido capturados dois elementos que confessaram que tinham assaltado a casa do Cavalcante e matado o Saul e a Maria. Foi um alivio geral, todos se abraçaram, alguns chorando, outros perdidos em seu próprio mundo. Foi talvez o momento mais tenso que vivi em toda minha vida. Superado este momento trágico, a vida seguiu e soube mais tarde que o Cavalcante ficou desanimado com o acontecido e acabou vendendo a casa.

Mas teve, entre a supervisão muitos momentos hilários, como uma certa vez, ouvindo uma conversa entre o Silvio, Alexandre e Meneghetti, eles comentavam que haviam adquirido um réchaud e que iriam fazer fondue no final de semana. Neste aspecto, o que um comprava era quase uma senha para que os outros também comprassem. Eu, como estava começando e o salário ainda era muito pequeno comparado com os deles, ficava a margem destas ostentações.
Confesso que sou curioso, gosto de conhecer coisas novas, mas não podia admitir que desconhecia o que eles estavam conversando. Réchaud e fondue, embora palavras francesas, era tudo japonês para mim. Não tinha ideia do que aquilo significava. Horas depois, fui conversar com o Silvio, que era o mais acessível para este tipo de conversa e ele me explicou que réchaud era um aparelho onde se derretia queijo, fritava pedaços pequenos de carne e derretia-se chocolate e comia-se acompanhado de vinho, com pequenos garfos. Era uma comida exótica, muita gostosa, que tempos depois tive oportunidade de saborear.

Quando o Silvio me contou eu simplifiquei e disse a ele, então é só derreter o chocolate e colocar pedaços de frutas e saborear? É isso aí, respondeu. Na segunda feira, quando estávamos conversando, o Alexandre disse que tinha feito fondue, e o Silvio e o Meneghetti também confirmaram que haviam feito e que foi divino. Eu não podia ficar por baixo e disse que também havia feito. Você fez? Perguntaram, mas como se você não comprou o réchaud? Simples, respondi. Comprei chocolate, uvas, bananas, morango e minha esposa derreteu o chocolate numa panela e comemos a “fondue caipira”. Quase me expulsaram da sala, mas demos muita risada.

Outra história que rendeu muitas risadas, pelo menos de mim, infelizmente foi quando resolvemos comprar um terno sob medida. O Sidney tinha um amigo alfaiate, cujo nome já não lembro mais, que sempre ia na LTN e fazia roupas sob medidas para muita gente, principalmente os supervisores, gerentes e até alguns vendedores. Eu nunca havia comprado nada dele e como vivíamos numa sociedade competitiva, onde todo mundo comprava de tudo e o outro para não ficar atrás, comprava também, eu acabei entrando na onda e resolvi fazer um terno com este alfaiate. Na hora de fazer a medida, como eu sempre fui barrigudinho e hoje este atributo cresceu um pouco mais, ele fez as medidas de acordo com as normas de alfaiate, ou seja, mediu o cós da calça até a cintura. Esqueci de dizer a ele, que em função da barriga grande, sempre usei calça abaixo da cintura. O terno que eu havia mandado fazer era bem claro e quando ele me entregou, foi uma gozação geral. O zíper da calça tinha mais de 40 cm. Era quase do tamanho de uma barraca de Camping. Nunca usei esta calça e o paletó somente algumas vezes. Nunca mais comprei dele e voltei a comprar roupas na Ducal.


Era obrigação do supervisor ou um gerente quando chegava numa capital ou cidade que estivesse escritório da Embratel, ir visita-los para informar que estávamos trabalhando na cidade. Era apenas uma visita de cortesia, mas tínhamos que fazer obrigatoriamente. Certa ocasião estava com a equipe em Porto Velho, num período de muito calor e eu para fazer a visita coloquei um terno cinza, bem clarinho, quase puxado para o branco, camisa azul e gravata preta. De verdade, para os padrões de São Paulo eu estava bem vestido, mas para Porto Velho, eu parecia um ET. Devido ao calor, ali ninguém usa roupa social durante o dia. Cheguei na Embratel suando as bicas e me anunciei a secretária. Ela pediu para aguardar uns minutos, que o Diretor estava atendendo outra pessoa e ofereceu água, que aceitei prontamente. Depois de alguns minutos, ela pediu para eu entrar e ao chegar na sala, me deparo com o diretor, vestido de bermuda e camiseta, com o logotipo da Embratel e sapato mocassim sem meias. Comuniquei a ele que estávamos trabalhando o Guia Brasil Telex e iriamos ficar por ali uns dias e que qualquer problema estávamos hospedados no Hotel Vila Rica e a inteira disposição. Ele agradeceu e disse que quando eu voltasse por lá, poderia vir a vontade, sem necessidade de usar terno e gravata, pois as repartições públicas de Porto Velho já haviam abolido esta formalidade. Agradeci e ao sair do prédio da Embratel, já me desmontei tudo, tirei o paletó, a gravata e dobrei a manga da camisa e voltei para o conforto ao ar condicionado que o hotel oferecia.
Uma grande serpente, visto do alto
Nesta viagem, quando terminamos o nosso trabalho em Porto Velho, o destino da equipe era a cidade de Belém. Mais de 04 horas de voo. Embarcamos em Porto Velho por volta de 13 horas com destino a Manaus e lá trocaríamos de avião para seguirmos viagem até Belém. O trecho Porto Velho/Manaus, foi uma viagem tranquila, quase toda sobre a Floresta Amazônica, era um mar de verde com aquelas enormes serpentes que os rios representam do alto e nada de cidades, era só arvores e mais arvores. Chegando em Manaus, encontramos no saguão do Aeroporto do supervisor Meneghetti, que havia trabalhado naquela cidade e estava também indo para Belém, só que num voo da Varig, que saia dentro de minutos enquanto o voo que minha equipe iria pegar era da Vasp e sairia horas depois.
Conversamos um pouco para matar as saudades e eles contavam as peripécias das compras feitas nas lojas da Zona Franca. Para embarcar, era um jogo de ajeitamento de carga para não pagar excesso de bagagem e eles haviam comprado muita coisa, afinal tudo era mais barato.  Depois que eles partiram, ficamos à toa no aeroporto esperando nossa vez de embarcar. O avião da Vasp, que embarcamos,  era um Boeing 707 com 04 turbinas, barulhento, mas  tido como um avião seguro. Cada um tomou seu assento e após as instruções das comissárias de bordo, o piloto  recebeu autorização da torre de comando para decolar.
O avião da epoca. Boeing 707
O embarque e a partida foram tranquilos com o avião taxiando até a cabeceira da pista e depois dos procedimentos rotineiros, os motores roncaram e o avião começou a ganhar velocidade e levantou voo, conforme previsto. Quem não conhece, o aeroporto de Manaus fica próximo ao Rio Negro e o avião que estávamos decolou no sentido contrário a Belém e teria que fazer uma curva sobre o Rio Negro para seguir o destino. O avião estava em plena aceleração e já dava para avistar o rio crescendo pela janela da aeronave, quando de repente, o avião perdeu força. A sensação é a mesma de você estar acelerando um carro e quebrar o cabo do acelerador. A impressão que dava era que o avião estava parado e poderia cair a qualquer instante. O silencio dentro da aeronave foi tão grande, que dava para ouvir até as batidas do coração, tal o medo que se instalou nos passageiros.
Nisso, a voz do comandante informa que o avião apresentou problemas nos flapes e que iriam voltar. Foram momentos terríveis. O avião, em baixa velocidade e com pouca altura, contornado o Rio Negro para poder fazer o alinhamento com a pista causava uma sensação de pânico, mas não havia o que fazer a não ser rezar para que tudo terminasse bem. Avião no chão, pouso controlado, sem nenhum susto adicional, tivemos a notícia que o nosso voo seria feito num prazo mínimo de 02 horas e que o bar do aeroporto estava liberado para todos passageiros. Foi um tal de pedir uísque, vodca, gim e outras bebidas, que parte do grupo estava para lá de Bagdá na hora de embarcar novamente.

Voo noturno
Era o mesmo avião. O reparo nos flapes já havia sido feito e a aeronave já estava apta para voar. Embarcamos e a viagem foi tranquila, mas já havia escurecido e a viagem foi toda feita a noite e a única luz que dava para ver da aeronave era aquela que fica na ponta da asa. No mais era tudo escuro. Foi feita uma escala em Santarém e chegamos em Belém por volta de 02 horas da madrugada, diversos vendedores e outros passageiros estavam bêbados, pois naquela época, ainda servia bebida alcoólica a bordo como cortesia.

Uma outra situação que também foi engraçada foi quando fomos escalados para iniciar nossos trabalhos em São Luiz. O voo sairia de São Paulo por volta de 12 horas e no meu grupo estava alguns vendedores novatos, entre eles, um chamado Sergio, que era da região de São Jose do Rio Preto e que nunca havia voado e estava apavorado. Procuramos acalma-lo e com muito custo, convencemos ele embarcar, mas foi torturante para ele, pois assim que o avião decolou, ele agarrou forte no banco que estava sentado e como era um dia quente o avião trepidava muito e a cada trepidação o apavoramento dele só aumentava. Achei até que ele ia desmaiar. Fez a viagem toda agarrado no braço da poltrona e quando o avião pousou em São Luiz e já no chão, ainda dentro do aeroporto, ele chegou em mim e pediu para voltar de ônibus, pois nunca mais queria voar. Não houve que o convencesse a voar novamente. Tive que conversar com o Falco, que liberou que ele fosse descendo de capital a capital de ônibus até São Paulo. Encontrei com ele tempos depois ele trabalhava numa borracharia e ele jurou para mim que jamais voaria.

Grande Lucas. Só suas historias daria um grande livro;
Um dos grandes vendedores que a LTN teve foi o Joseph. Confesso que o conheci muito rapidamente, pois tão logo fui admitido  ele deixou a empresa para montar uma empresa de telefonia via satélite, com escritório na Avenida Paulista. Até fui visita-lo uma ocasião, mas meu contato com ele foi mínimo, mas ele é lembrado por todos que o conheceram como um dos maiores vendedores que a LTN teve em seu quadro de funcionários, senão o maior e os textos que vou reproduzir agora são lembranças de dois veteranos, que tiveram oportunidade de conviver com o Joseph e daí saiu uma boa história, que espero contar de uma forma convincente. Vou iniciar com a chegada do Joseph a LTN, recontando a história do José Lucas Erandes, publicou recentemente:
Lucas parece que seu destino era ser vendedor de publicidade em lista telefônica, pois parte de sua vida foi destinada a este nicho de mercado e ele tem uma enciclopédia de fatos e acontecimentos, que somente de seus “causos” daria para escrever um livro de mais de 400 páginas. O seu primeiro emprego foi na antiga LTB – Listas Telefônicas Brasil, onde deu os primeiros passos nesta fantástica profissão. Certa ocasião recebeu um convite para ir trabalhar numa editora que comercializava o guia Credicard e esta empresa pertencia ao seu grande amigo Savaglia, pessoa que o Lucas considerava um ídolo, e junto com ele estavam mais dois amigos fieis, o Henrique e o Boter e mais alguns vendedores. Era uma equipe pequena, mas de grande produtividade.
O trabalho no Guia da Credicard começou pela cidade de São Paulo e depois se estendeu para as cidades de Porto Alegre e Curitiba. Na capital do Paraná estavam hospedados no Hotel Mabu, defronte à Praça onde fica a Universidade Federal do Paraná e o Teatro Guaíra, bem no centro da cidade a poucos quarteirões da Boca Maldita, local de encontro dos paranaenses. Depois de um dia de muito trabalho, quando estavam descansando na recepção do hotel, aparece um rapaz, que era irmão do companheiro de quarto do Lucas e que naquela ocasião, que estava trabalhando na cidade vendendo publicidade para um veículo chamado Guia Azul, semelhante as Páginas Amarelas. 
Acontece que este rapaz estava sem dinheiro e não tinha onde dormir. Eles concordaram em acolher o rapaz naquela noite e driblando a recepção do Hotel Mabu, o rapaz subiu até o apartamento do Lucas e do amigo dele e depois de tomar um banho e comer um lanche, dormiu aquela noite no chão do apartamento, que não era coisa de outro mundo, pois o carpete do quarto era como um colchonete de tão macio. No dia seguinte se despediram e a vida seguiu.
Tempos depois o Lucas, pelo seu amigo Eugênio, foi convidado e vir trabalhar na LTN, isto em fevereiro de 1978. O trabalho que ele executava era o mesmo que fazia na LTB e no Guia da Credicard, ou seja, vender publicidade e nisso ele era muito bom. O tempo passou e como o mundo gira, um dia, por acaso ele encontra com seu amigo que havia dividido o apartamento em Curitiba num comércio perto de sua residência. Após os cumprimentos iniciais, vem a clássica pergunta: onde você mora? Moro ali na Rua Rocha e você? Perguntou o amigo. Moro ali próximo a Fundação Getúlio Vargas. Caramba, disseram, então somos vizinhos e deste momento, aquela amizade de trabalho, que havia sido esquecida, voltou.
Num instante da conversa, ele perguntou ao Lucas onde ele estava trabalhando no momento e o Lucas respondeu que estava na LTN e então o amigo perguntou se ele não conseguiria encaixar seu irmão, que estava desempregado no momento, mas que era um bom vendedor e já tinha experiência no mercado, inclusive, disse - Lucas, você já o conhece, lembra aquele rapaz que dormiu no nosso apartamento em Curitiba? Então. é ele.
- Vou ver o que consigo – falou o Lucas e na primeira oportunidade que teve, dias depois, levou o assunto para o supervisor Hernani, que aceitou entrevistar o rapaz. Avisei meu amigo e voltei para minha rotina e esqueci o assunto.
O candidato ao emprego de vendedor foi recebido pelo Hernani e que no momento não estava com uma boa equipe, resolveu confiar na indicação do Lucas e o contratou  para seu time, que logo que foi a campo já começou a arrebentar com as vendas. Vendia mais que a equipe toda. Estava surgindo um vendedor que virou lenda na LTN, o cara era o Joseph.
Tempos depois eles se encontraram, ficaram amigos e chegaram inclusive a trabalhar na mesma equipe, mas a convivência as vezes causa desgastes e numa delas, tiveram um desentendimento e se afastaram e ficando uns 05 anos sem conversar, parte também por não trabalharem nos mesmos veículos. Numa viagem que o Lucas estava fazendo, junto com a equipe para a cidade de Londrina para concluir as vendas do Guia Brasil Telex daquele ano, no aeroporto recebeu a notícia que o Joseph havia sido promovido a Diretor da LTN.
Não faltou quem não tirasse uma com cara dele, pois todos sabiam da rusca que o Lucas tinha com o Joseph e aí eles comentavam que certamente agora o Lucas seria demitido, mas se isso acontecesse, seria uma decisão errada da LTN, pois ele era um bom vendedor e sempre cumpria suas tarefas com êxito. Passados alguns dias da posse do novo diretor, eis que ele recebe um telefonema da Amália, informando que o Joseph queria que ele se apresentasse imediatamente em São José do Rio Preto para assumir a chefia da equipe que estava sitiada naquela cidade fazendo a lista 180. Quase enfartou. Esperava a notícia de uma eventual demissão e de repente, é promovido a supervisor, o que jamais esperava.
O seu encontro com Joseph ocorreu, depois de todos estes anos, em Araçatuba, quando a empresa alugou uma chácara para fazer uma festa de confraternização e ele apareceu. No início, o Lucas não sabia como agir, tanto que ficou isolado do grupo num campo de bochas para não ter que conversar com o Joseph, mas ele mandou chama-lo, mas o Lucas resolveu não ir e lá permaneceu. Novamente foi chamado e aí não teve jeito, teve que ir enfrentar seu desafeto depois de tantos anos. Mas uma boa surpresa aconteceu. Chegando ele o cumprimentou sorrindo, deu um abraço e foram conversar num lugar reservado e colocaram as conversas em ordem e a amizade voltou e a partir daquele momento, o Lucas passou a ver o Joseph de uma outra maneira, como uma pessoa humilde, um grande profissional. A amizade permanece até hoje, mas a beleza e as peças que o destino apresenta as vezes é que são fantásticas. Talvez esta história não existisse se não houvesse aquela noite no Hotel Mabu.
O texto abaixo foi contado pelo Manoel, que conviveu muito tempo com o Joseph e vale a pena ser relatado um episódio da vida dele.
Depois de ler a publicação do Lucas, sobre o Joseph Claude Daou,  ( gostaria muito de tê-lo como participante do grupo, tem muitas passagens sobre ele, vou contar umas três que estou lembrando agora )...ele era bem jovem quando entrou, era um garoto ainda, mas antes de entrar na LTN ele trabalhou em uma empresa de exportação e importação do Líbano( ele falava vários idiomas), certa vez viajou para o Líbano e foi resolver uns assuntos em uma cidade de lá, depois de resolvido tudo e em vez de voltar pro Brasil ele caiu na besteira de querer visitar os familiares que moravam em uma outra cidade, que não sei qual era ( ex: ele foi pra São Paulo e a família morava no Rio de Janeiro ), quando chegou na cidade pra visitar os familiares estourou uma daquelas GUERRAS que acontecem muito naqueles lados, e ele teve que ficar lá e foi recrutado pra guerrear, passou o maior sufoco da vida na guerra, quando a mesma acabou ele voltou pro Brasil e chegando na empresa foi demitido porque ele não deveria ter ido pra outra cidade e sim voltado. Joseph, gostaria muito que estivesse aqui no grupo para confirmar isso, mas acho que a Tania Castro, poderá dizer se isto é verídico.

O capitulo esta longo, continua na próxima semana.





sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Capitulo 11 – A Grande Surpresa

As férias tinham chegado ao fim. Era hora de começar tudo novamente e no domingo a tarde, antes do início dos trabalhos, despedi da família e fui para São Paulo. Chegando, já era praxe utilizar o Hotel Bourbon e já na recepção encontrei diversos colegas de trabalho e colocamos as novidades em dia.
No dia seguinte, pela manhã, já na LTN, todos os vendedores estavam presentes e era aquele burburinho da alegria do reencontro. Era bonito de ver os homens todos vestindo ternos, as mulheres vestindo social, todos cheios de histórias para contar sobre as férias que havia terminado e foram merecidas, afinal, o ano anterior sido muito difícil, muitas viagens, muito tempo longe de casa. Era gostoso esse reencontro.

Eram conversas como estas. O que você tem para contar? Caramba, você trocou de carro? Nossa, você foi visitar sua família lá naquela cidade distante depois de tanto tempo? Legal, hein, conseguiu convencer a namorada ficar noiva e já marcou a data do casamento? Terno novo? Cara, torrei todo o dinheiro do decimo terceiro e agora preciso fazer umas campanhas boas para voltar a ter grana novamente?  Era tudo alegria!

Depois do alvoroço inicial do encontro, lá vem os manda chuvas. Falco, Sidney, Manoel e os supervisores. O Falco comanda o espetáculo e comunica a todos que o Jair e o Morales haviam deixado a empresa e que seriam escolhidos entre os vendedores, os novos supervisores. Alguns ficaram pasmos com a notícia, outros nem tanto, mas ficou aberta a bolsa de aposta de quem seria os novos supervisores. Haviam grandes vendedores, com muita experiência de vendas e de conhecimento da rotina da LTN, e os favoritos eram o Ribeiro e o Marçola. Um grupo de 06 pessoas foram escolhidas, entre elas eu estava no meio e os demais vendedores foram dispensados e deveriam se apresentar somente no dia seguinte, a tarde, quando seriam escolhidas as novas equipes, já com os novos supervisores. Estava me sentindo um estranho no ninho, pois todos os vendedores que concorriam as vagas de supervisores eram conhecidos de todos e eu era o único novato, pois tinha somente 08 meses de empresa e não tinha me destacado tanto como vendedor.

Processo de seleção. Quem seriam os escolhidos?
Fomos entrevistados por todos os supervisores, pelo Manoel, pelo Tonico e pelo Sidnei e pelo Falco. Foram entrevistas duras, com perguntas contundentes, que era para fazer o candidato fraquejar ou desistir. Lembro de uma frase dita pelo Falco. "Olha, você está concorrendo a uma vaga de supervisor e este cargo requer muita responsabilidade e caso você venha a ser escolhido e não der certo, você não voltará a ser vendedor, será demitido. Quer continuar com o processo de seleção?" Quero, respondi e assim foi o dia todo. A tarde, quando terminou o processo de entrevistas, fomos dispensados e deveríamos nos apresentar junto com os outros vendedores no dia seguinte à tarde.
Na reapresentação do grupo, todos estavam agitados e curiosos para saber que eram os escolhidos. A ansiedade dos vendedores era pequena diante da minha expectativa. Sabia que não tinha chance de ser o escolhido, afinal, os outros eram mais experientes e conhecidos, mas no fundo, tinha uma pequena esperança. Eu era apenas mais um na multidão. Muitos vendedores nunca tinham falado comigo, apenas um oi de vez em quando, mas havia chegado o grande momento. O Falco, acompanhado da chefia toda, começou a reunião da tarde, e depois de discursar sobre o que a empresa projetava para aquele ano, ia anunciar o nome dos escolhidos.
Comemoração pela escolha do Mairo
Recordo a cena como fosse hoje: Falco dizendo: o primeiro escolhido foi o vendedor Mairo! Foi uma explosão de palmas e gritaria de alegria. O Mairo tinha um bom relacionamento com os vendedores e com a chefia. Em seguida, o Falco, pediu silencio a todos e disse que o segundo supervisor seria o Luis Antonio. Quase desmaiei. O silencio na sala foi incrível. Por alguns segundos, se caísse uma agulha no chão dava para ouvir o barulho. Depois, timidamente, uma salva de palma, mas a surpresa era geral.

Reação da minha promoção
Afinal, quem era este tal de Luis Antonio? Perguntavam os que não me conheciam e passado este momento, começou o sorteio das equipes. Como disse anteriormente, todas as equipes tinham um vendedor faixa A, que puxava a equipe e o que caiu na minha equipe foi o melhor deles naquele momento, que era o Agno, com que tinha um relacionamento de amizade mínimo. Havíamos conversado algumas vezes durante o ano anterior, mas não podia considerar um amigo. Era um colega de trabalho.
Minutos depois, a situação se acalmou e cada supervisor foi para uma mesa com sua equipe traçar a estratégia da campanha do GBT que se iniciaria no dia seguinte em São Paulo. Era praxe iniciar os trabalhos pela Capital e depois as viagens. Não recordo todos os vendedores da minha primeira equipe, mas consigo recordar que o Agno, Ângela, Bimbato, Sergio Dias, Kalil faziam parte dela. Eu lamento não recordar o nome dos demais, mas todos foram grandes amigos.
Após a reunião inicial, senti o Agno incomodado por estar naquela equipe, com um supervisor que não conhecia, que não confiava e simplesmente participou da reunião quieto, não fez nenhum comentário. Pegou sua atribuição e saiu para trabalhar. Era uma terça feira. Quarta e quinta a equipe vendeu alguns contratos, mas o Agno entrou improdutivo todos os dias. Estava preocupado com a situação. Eu estava sendo testado e o principal vendedor da equipe estava insatisfeito e não produzindo.

Conversei a respeito com o Manoel, inclusive sugeri que ele fosse trocado de equipe, para o bem da empresa e também da minha campanha. O Manoel, disse não! Você é o supervisor e tem que fazer sua equipe vender. Marquei uma reunião com a equipe na sexta feira a tarde, mas antes conversei em particular com o Agno e disse a ele que minha escolha tinha sido feita pela diretoria da empresa e eu não tinha nenhuma influência nisso, mas gostaria que ele confiasse em mim e que a equipe precisava muito da experiência dele. Algo mágico aconteceu então.

Logo depois de nossa conversa, nos reunimos em torno de uma mesa e fizemos um balanço da semana e ai o Agno mostrou todo seu talento como um grande vendedor e deu uma aula de vendas para a equipe e pra mim também. Foi o Agno que eu não conhecia e nem imaginava que existia. Paciente, brincalhão, astuto, participativo, foi ele nesta reunião e saímos dali com o astral lá em cima. A partir de agora seria uma nova vida, uma nova equipe.

Como muitos devem saber, a LTN fazia permutas com os hotéis e locadoras de veículos em troca de anúncios nas suas publicações e naquela ocasião, eu e mais um grupo, estávamos hospedados no Hotel San Marino, que ficava próximo à Rua Martins Fontes. Depois de encerrada as atividades daquele dia, parei um pouco no Bar do Dinei e em seguida fui para o Hotel, onde jantei e fui dormir. Por volta de 06 horas do sabado, já amanhecendo, toca o telefone do meu apartamento e chega a pior notícia: O Agno havia se envolvido numa discussão no bairro onde morava e fora baleado, vindo a falecer.

Literalmente, o mundo caiu! Eu e mais alguns amigos fomos ao velório e era difícil acreditar o que os olhos mostravam. O Agno se fora e deixou muitas saudades. Uma perda lamentável. Mas a vida segue e tínhamos que seguir em frente. Estava com a equipe desfalcada e quem assumiu o papel de Faixa A da equipe foi a Ângela (A. Guerreiro) e apesar de todos nossos esforços, terminamos a campanha em último lugar. Levamos uma lavada das outras equipes.

Como era minha primeira campanha como supervisor, eu acabava sendo presa fácil para o Silvio, Meneghetti, Alexandre, Manoel, Falco, Sidney e volta e meia, estava entrando numa fria, as vezes provocada por eles outras por falta de experiência mesmo. Veja uma trapalhada que fiz em Salvador, que deu muita dor de cabeça: Estávamos hospedados Hotel Praiamar, bem no início da Barra. 

Troquei mais de 40 passagens

Lá estávamos todas as equipes, pois Salvador era uma praça grande e depois dali cada equipe seguiria para um outro destino. Bem como eu era principiante, a tarefa de office-boy era sempre designada a mim e desta vez não foi diferente. O Sidney e o Falco também estavam lá e me deram a ordem de ir até o Aeroporto marcar as passagens para todas as equipes e pronto, nenhuma instrução adicional. Peguei um carro e segui para o Aeroporto, que fica a mais de 30 quilômetros distante do hotel, com mais de 40 passagens e fiz a marcação de acordo com o recomendado e voltei para o hotel todo orgulhoso, afinal eu nunca havia feito aquele serviço e o tinha concluído com mérito. 
Ai que começou a confusão. Eu realmente fiz a marcação correta dos destinos, mas misturei todos os bilhetes. Resultado desta confusão teve homem viajando com passagem de mulher, mulher embarcando com passagem de homem, o maior caos. Levei a maior bronca da minha vida e nunca mais me pediram para fazer este tipo de serviço.
Mas teve também neste local duas situações inusitadas que vale a pena ser contada. Tinha uma ficha especial que deveria ser resolvida, na cidade de São Gonçalo do Campo, onde estava estabelecida a empresa Menendez & Amerino. Esta empresa era, na época, a maior fabricante de charutos, dominava mais de 80% da produção nacional. Lá era fabricado os lendários charutos cubanos Montecristo, H. Upmann e Por Larrañaga.

O melhor charuto do mundo
Esta era uma ficha muito especial para a minha equipe e resolvi ir com o vendedor resolve-la. Não era procedimento corriqueiro o supervisor acompanhar o vendedor para resolver fichas, mas de vez em quando, isto acontecia. Chegando na empresa, fomos prontamente atendidos por um senhor muito simpático, que era um dos sócios e ele foi tão atencioso, que acabamos perdendo praticamente o dia todo naquele cliente. Primeiramente, fez questão de nos mostrar como era feito o charuto, processo totalmente artesanal, desde a separação até o corte e o enrolamento das folhas em forma de charuto, trabalho este que era feito somente por mulheres, que com extrema habilidade, enrolava as folhas sobre um pano colocando sobre as pernas. Nós queríamos fechar o contrato e ir logo embora, mas quem disse que ele queria que fossemos. Nos convidou a ir até o escritório e apreciar um Montecristo.
Nunca havia fumado um charuto antes e dei uma engasgada, que foi motivo de muito riso por parte do cliente. Depois discutimos a publicidade e ela foi renovada sem nenhum problema, mas mesmo assim não conseguimos sair dali. Ele nos convidou a almoçar com ele, num local próximo da fábrica, que servia a melhor comida de São Gonçalo. Tentamos argumentar que tínhamos outros compromissos, mas não teve jeito, ele não abria mão de nossa companhia para o almoço. Acabamos cedendo ao convite.
Imaginava eu que quando ele disse que iriamos comer a melhor comida da cidade,  que seria um restaurante, mas ledo engano, ele nos levou a uma casa simples e bateu palmas e saiu uma senhora negra, grande, gorda, com um pano amarrado na cabeça, toda sorridente e nos convidou para entrar e ficar a vontade. Confesso que estava constrangido, mas já não tinha como recuar, mas dentro da casa desta senhora havia um local na varanda com umas 05 ou 06 mesas, tudo muito simples, mas tudo muito limpo. Quando a comida foi servida, toda a propaganda feita correspondia a verdade. A refeição servida era sensacional, tão boa, que até hoje ainda consigo recordar. Quando finalmente nos despedimos, ganhei uma caixa de charuto, que para limpar a barra e ficar bem na fita, por ter passado o dia todo fora, a presentei ao Manoel, que aceitou agradecido, embora não fumasse.

Bimbato
Alguém deve se lembrar do Bimbato. Era um vendedor simpático, amigo de todos e se dava muito bem com as mulheres. Bem, ele recebe uma atribuição de uma ficha de novo da Concessionária Chevrolet de Salvador, que ficava no caminho do Aeroporto. Era uma grande empresa e foi lá que o Falco comprou na época, e deixou todo mundo de queixo caído, um Opala Preto Comodoro, na época, o melhor carro do mercado nacional.
Bem, voltando ao Bimbato, ele com sua simpatia, conquistou a garota que era responsável pela área de marketing da empresa e tinha o cargo de diretora. De início o negócio não saiu, mas ele continuou visitando-a, convidou-a para jantar e surgiu uma boa amizade entre eles e num determinado dia ele aparece com um contrato assinado: Ele tinha vendido uma página colorida para a empresa. Era o maior contrato de novo da campanha até então. Chequei o contrato e não teve nenhum problema, até começar a cobrança. Aí o bicho pegou, pois, o cliente tinha entendido que o valor combinado seria somente pago uma vez e não doze vezes. Deu muita dor de cabeça, pois o anuncio custava o equivalente a um carro novo por mês. De Salvador fomos para o Hotel Atalaia em Aracaju, onde trabalhamos poucos dias e em seguida para Recife, onde ficamos somente 01 dia e depois para João Pessoa. 
Equipe em João Pessoa
Olha ela ai novamente
La, nos hospedamos num hotel que ficava no centro da cidade, que poderia se chamar Hotel Rio Branco ou São Francisco. De lá fomos para São Luiz, no Maranhão, antes paramos rapidamente em Fortaleza e deu tempo de conhecer a famosa feirinha. Nesta época já estava recebendo pró-rata e dava para comprar algumas lembranças. Eu comprei uma camisa e uma bermuda estilo cearense e fui para São Luiz com esta roupa. Ao entrar no avião, a bermuda começou a descosturar e eu cheguei em São Luiz praticamente de saia. Nesta viagem, ainda dentro do avião, o Manoel, que sempre tinha umas charadas legais, fez uma pergunta pra mim, que demorei uns meses para resolver. Ele perguntou qual era o nome de homem, no singular, que terminava com a letra A. Não podia ser José Maria ou coisa que valha. Demorei para matar a charada, mas tinha resposta.

Hotel Vila Rica
Em São Luiz, ficamos num dos bons hotéis das viagens, o Vila Rica. Hotel 05 estrelas, com ótimos apartamentos, uma piscina maravilhosa e tinha uma vista magnifica da maior maré do mundo, quando o mar invade a cidade por mais de 15 quilômetros. Na vazante, os barcos ficam encalhados até a próxima maré. São Luiz é uma cidade fundada pelos portugueses e a parte central da cidade é toda tombada pelo Patrimônio da Unesco, e nada pode ser mexido sem autorização deste órgão, em consequência, no aspecto estético, a parte velha da cidade pode ser considerada do ponto de vista funcional, muito feia, mas do ponto de vista histórico é um espetáculo. Muito bonito ver aqueles casarões antigos revestidos com azulejos importados de Portugal a mais de 400 anos e ainda resistem ao tempo. Suas ruas, na parte velha da cidade são estreitas e na sua maioria o piso é revestido de pedras.  
Nesta igreja, todo dia, tinha uma senhora que a pleno pulmões orava. Pode até ser ela na foto.
Neste lado que localizava o Hotel Vila Rica, bem ao lado de uma igreja católica, que para acessa-la, subia-se uma escada com uns 15 degraus e dali saia uma varanda que rodeava toda a frente da igreja e mais uns dois degraus para entrar dentro da igreja propriamente. Era uma igreja antiga, com ricos detalhes na sua decoração. Nunca fui a uma missa, mas era bem frequentada. O que recordo era de uma senhora, que diariamente subia nesta varanda, e a pleno pulmões, pregava a bíblia as vezes para ninguém, mas nunca faltava.
Outro personagem folclórico era um senhor que se vangloriava de não cortar os cabelos a mais de 30 anos. O cabelo dele era todo amarrado e descia pelas costas, num rolo de uns 15 centímetros de diâmetro e vinha até o chão. Era curioso de ver, mas desaconselhável de chegar perto, pois este senhor vivia pela rua e banho não era o seu esporte predileto. A decoração do Hotel era toda voltada para o folclore maranhense, destacando a dança do Boi Bumba, uma celebração que o povo daquela terra encara como o Carnaval do Rio de Janeiro. Um grande espetáculo.
A cidade velha é ligada à cidade nova por duas pontes e neste outro lado da cidade, fica uma metrópole moderna, com grandes hotéis, praias lindíssimas e muitas casas de shows, onde prevalece o ritmo reggae, tendo como ícone Bob Marley. Tudo era bonito, praias paradisíacas, piscina fantástica, encontro com famosos, mas tínhamos que voltar ao trabalho, afinal, não estávamos fazendo turismo.
Pela manhã, era uma fila assim que se formava na porta do hotel
Estava lá como minha equipe e também a equipe se a memoria não enganar do supervisor Meneghetti e também com a presença do supervisor chefe Manoel, que na época era um “amor” de pessoa. Não dava moleza e pegava no pé mesmo. O Manoel de hoje não lembra, a não ser pelo físico, o Manoel daquela época. Bem, nesta cidade, tínhamos que fazer o Estado do Maranhão em 05 dias e como estávamos viajando de avião e não houve permuta com a Localiza para aquele estado, a solução foi arrumar táxi. Era uma loucura, pela manhã, aquela fila de táxi parado na frente do hotel, cada um com um destino. Eles, os taxistas, estavam felizes com o trabalho, afinal havia atribuição para todas as cidades do interior. Imagine sair de São Luiz e ir até Açailândia (mais de 400 km só de ida), trabalhar e voltar a tarde e no dia seguinte começar tudo de novo.
Foram grandes aventuras. Não podemos negar que ganhamos dinheiro, mas não podemos também dizer que foi fácil, muito pelo contrário, cada centavo ganho foi muito merecido. Nesta primeira campanha, fomos até Belém, onde ficamos num dos melhores hotéis de todas as campanhas que trabalhei. O Hilton, um hotel fantástico, que começava a servir o café da manhã a partir das 04 horas. Em resumo, este foi o primeiro Guia Brasil Telex como supervisor. Apanhei muito, mas aprendi muito também, lições que me ajudariam no futuro a montar uma equipe vencedora.
Continua no próximo capitulo